Previous Page  6-7 / 24 Next Page
Information
Show Menu
Previous Page 6-7 / 24 Next Page
Page Background

6

REVISTA

SINDLOC

SP

7

REVISTA

SINDLOC

SP

RETOMADA

DA ECONOMIA

emCOMPASSODE ESPERA

Desenvolvimento do cenário político-econômico está atrelado à

aprovação da reforma da previdência e à força política da nova gestão

O

cenário econômico para 2019 apresenta aspec-

tos muito mais favoráveis após a eleição do pre-

sidente Jair Bolsonaro. Para Sergio Vale, econo-

mista-chefe da MB Associados e colunista do site da

revista

Exame

, a tendência é que o novo governo dê

continuidade a um ajuste significativo nas contas públi-

cas e ponha em prática reformas estruturantes. A cos-

tura entre política e economia torna-se ainda mais fun-

damental nesse novo governo. O entrevistado destacou

ainda a relevância do setor de serviços para dinamizar a

cadeia produtiva.

Qual é a expectativa neste início de mandato

do presidente Jair Bolsonaro?

Neste momento, tanto a reforma da previdência

como a tributária serão os dois centros de atenção na

parte econômica. Das reformas microeconômicas

que foram feitas no decorrer dos últimos anos, o ca-

dastro positivo é outro destaque, que ainda está nos

trâmites finais e tende a diminuir o

spread

bancário no

Brasil de forma significativa quando for implementa-

do. E é fundamental a capacidade política do novo go-

verno para executar essas reformas, principalmente

a da previdência.

E o que esperar dessa capacidade política?

O mercado, naturalmente, projeta uma convicção do

governo em dar prosseguimento a uma reforma profun-

da e negociá-la por meio de uma estratégia política dife-

rente, sem o “toma lá, da cá”. Essa prática terá de ser

testada, pois envolve uma mudança radical no

modus

operandi

brasileiro. Uma reforma fundamental, que ne-

cessita de 308 votos na Câmara, exige um alinhamento

político muito habilidoso.

Infelizmente não é uma reforma fácil, que se faz de

forma trivial. Vários presidentes tentaram, colocaram

propostas que não funcionaram ou, quando eram refor-

mas boas, acabaram não avançando. Mas com uma re-

forma bem delineada e uma costura adequada com o

Congresso, podemos confiar nas mudanças.

o senhor acredita que estamos caminhando

para a aprovação ou ainda é um cenário muito

nebuloso?

Esse cenário está diretamente atrelado ao teor da re-

forma. Acredito que o ministro Paulo Guedes apresentará

uma proposta muito mais ampla e impactante do que a

cogitada pelo próprio presidente. E é essencial que esse

projeto não conviva com divergências entre as alas política

e econômica e seja avalizado com convicção pelo presiden-

te Bolsonaro. É fundamental que o novo presidente siga

esses passos e fortaleça sua relação com o Congresso.

Se a reforma for aprovada, o que vem depois?

Sendo aprovada a reforma, penso que teremos cresci-

mento ainda em 2019 e números mais exuberantes para

apresentar no médio prazo. A economia tende a registrar

alta acima do que vivenciamos nos últimos dois anos.

Mas temos de lembrar também que o governo anterior

assumiu uma casa muito desarrumada em 2016. Agora

temos a política monetária muito bem equilibrada, a polí-

tica fiscal se acertando e um caminho aberto para a con-

tinuidade de reformas. Claro que teremos um tempo de

espera em relação a investimentos estrangeiros, mas

acredito que já no primeiro semestre teremos uma previ-

são. Mesmo sendo uma reforma completamente nova,

que tem de passar pelas comissões da Câmara, acho que

a primeira votação deva ocorrer até o fim de junho.

E o cenário para 2020?

Passado todo o processo de reforma da previdência,

teremos um 2020 muito mais promissor para as mudan-

ças que o ministro Paulo Guedes está sinalizando, como

diminuir a burocratização da economia brasileira, instituir

uma reforma tributária, aumentar o processo de conces-

sões e privatizações. Os bancos públicos estão acompa-

nhando esse pensamento e já observamos os primeiros

sinais de movimentação no setor de óleo e gás. Com a

reforma da previdência posta em prática, conseguiremos

crescer mais de 3% semmuita dificuldade.

Caso a reforma não seja aprovada,

o que acontece?

Entraremos num cenário muito complicado de desa-

celeração da economia. Para começar, o governo des-

monta imediatamente, perde força e não consegue mais

mudanças relevantes na parte fiscal. Isso faz com que a

economia entre em choque novamente, com taxas de

câmbio que tendem a subir, inflação que volta a acelerar e

taxas de juros que se elevarão.

Acabamos de sair de uma megarrecessão, as em-

presas ainda estão muito frágeis, com altos índices de

endividamento e sem plena recuperação do fatura-

mento, a não ser um ou outro segmento nos quais po-

demos observar um crescimento forte, como aconte-

ceu com o setor automobilístico. Esperamos que o

Congresso tenha consciência e sensibilidade ao vislum-

brar esse cenário.

o setor de serviços terá um período melhor?

O setor de serviços tem um peso maior na nossa

economia, já representando 65%. No decorrer de 2018, o

segmento começou a melhorar na sua oferta de cresci-

mento, enquanto a indústria já tinha dado sinais de reto-

mada desde 2016. Acredito que teremos um crescimen-

to de 2% neste ano, com um saldo líquido de contratação

de emprego na casa de 800mil pessoas.

n

QUEM:

Sergio Vale

DETALHE:

Economista formado pela Faculdade de

Economia e Administração da Universidade de São

Paulo (FEA/USP) e mestre em economia pela mesma

instituição. Também obteve mestrado em economia

pela Universidade de Wisconsin (EUA) e lecionou nos

cursos de economia e administração das faculdades

IBMEC-SP. Foi pesquisador da

Fipe

, colaborador do

jornal

O Estado de S. Paulo

, além de colunista do

Di-

ário de S. Paulo

, do

Brasil Econômico

e da revista

Época Negócios

. Hoje colunista da

Exame

, ele faz

parte do corpo técnico da

MB Associados

há 15 anos,

onde atua como economista-chefe desde 2006.

Divulgação

Bigstock