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REVISTA
SINDLOC
SP
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SINDLOC
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RETOMADA
DA ECONOMIA
emCOMPASSODE ESPERA
Desenvolvimento do cenário político-econômico está atrelado à
aprovação da reforma da previdência e à força política da nova gestão
O
cenário econômico para 2019 apresenta aspec-
tos muito mais favoráveis após a eleição do pre-
sidente Jair Bolsonaro. Para Sergio Vale, econo-
mista-chefe da MB Associados e colunista do site da
revista
Exame
, a tendência é que o novo governo dê
continuidade a um ajuste significativo nas contas públi-
cas e ponha em prática reformas estruturantes. A cos-
tura entre política e economia torna-se ainda mais fun-
damental nesse novo governo. O entrevistado destacou
ainda a relevância do setor de serviços para dinamizar a
cadeia produtiva.
Qual é a expectativa neste início de mandato
do presidente Jair Bolsonaro?
Neste momento, tanto a reforma da previdência
como a tributária serão os dois centros de atenção na
parte econômica. Das reformas microeconômicas
que foram feitas no decorrer dos últimos anos, o ca-
dastro positivo é outro destaque, que ainda está nos
trâmites finais e tende a diminuir o
spread
bancário no
Brasil de forma significativa quando for implementa-
do. E é fundamental a capacidade política do novo go-
verno para executar essas reformas, principalmente
a da previdência.
E o que esperar dessa capacidade política?
O mercado, naturalmente, projeta uma convicção do
governo em dar prosseguimento a uma reforma profun-
da e negociá-la por meio de uma estratégia política dife-
rente, sem o “toma lá, da cá”. Essa prática terá de ser
testada, pois envolve uma mudança radical no
modus
operandi
brasileiro. Uma reforma fundamental, que ne-
cessita de 308 votos na Câmara, exige um alinhamento
político muito habilidoso.
Infelizmente não é uma reforma fácil, que se faz de
forma trivial. Vários presidentes tentaram, colocaram
propostas que não funcionaram ou, quando eram refor-
mas boas, acabaram não avançando. Mas com uma re-
forma bem delineada e uma costura adequada com o
Congresso, podemos confiar nas mudanças.
o senhor acredita que estamos caminhando
para a aprovação ou ainda é um cenário muito
nebuloso?
Esse cenário está diretamente atrelado ao teor da re-
forma. Acredito que o ministro Paulo Guedes apresentará
uma proposta muito mais ampla e impactante do que a
cogitada pelo próprio presidente. E é essencial que esse
projeto não conviva com divergências entre as alas política
e econômica e seja avalizado com convicção pelo presiden-
te Bolsonaro. É fundamental que o novo presidente siga
esses passos e fortaleça sua relação com o Congresso.
Se a reforma for aprovada, o que vem depois?
Sendo aprovada a reforma, penso que teremos cresci-
mento ainda em 2019 e números mais exuberantes para
apresentar no médio prazo. A economia tende a registrar
alta acima do que vivenciamos nos últimos dois anos.
Mas temos de lembrar também que o governo anterior
assumiu uma casa muito desarrumada em 2016. Agora
temos a política monetária muito bem equilibrada, a polí-
tica fiscal se acertando e um caminho aberto para a con-
tinuidade de reformas. Claro que teremos um tempo de
espera em relação a investimentos estrangeiros, mas
acredito que já no primeiro semestre teremos uma previ-
são. Mesmo sendo uma reforma completamente nova,
que tem de passar pelas comissões da Câmara, acho que
a primeira votação deva ocorrer até o fim de junho.
E o cenário para 2020?
Passado todo o processo de reforma da previdência,
teremos um 2020 muito mais promissor para as mudan-
ças que o ministro Paulo Guedes está sinalizando, como
diminuir a burocratização da economia brasileira, instituir
uma reforma tributária, aumentar o processo de conces-
sões e privatizações. Os bancos públicos estão acompa-
nhando esse pensamento e já observamos os primeiros
sinais de movimentação no setor de óleo e gás. Com a
reforma da previdência posta em prática, conseguiremos
crescer mais de 3% semmuita dificuldade.
Caso a reforma não seja aprovada,
o que acontece?
Entraremos num cenário muito complicado de desa-
celeração da economia. Para começar, o governo des-
monta imediatamente, perde força e não consegue mais
mudanças relevantes na parte fiscal. Isso faz com que a
economia entre em choque novamente, com taxas de
câmbio que tendem a subir, inflação que volta a acelerar e
taxas de juros que se elevarão.
Acabamos de sair de uma megarrecessão, as em-
presas ainda estão muito frágeis, com altos índices de
endividamento e sem plena recuperação do fatura-
mento, a não ser um ou outro segmento nos quais po-
demos observar um crescimento forte, como aconte-
ceu com o setor automobilístico. Esperamos que o
Congresso tenha consciência e sensibilidade ao vislum-
brar esse cenário.
o setor de serviços terá um período melhor?
O setor de serviços tem um peso maior na nossa
economia, já representando 65%. No decorrer de 2018, o
segmento começou a melhorar na sua oferta de cresci-
mento, enquanto a indústria já tinha dado sinais de reto-
mada desde 2016. Acredito que teremos um crescimen-
to de 2% neste ano, com um saldo líquido de contratação
de emprego na casa de 800mil pessoas.
n
QUEM:
Sergio Vale
DETALHE:
Economista formado pela Faculdade de
Economia e Administração da Universidade de São
Paulo (FEA/USP) e mestre em economia pela mesma
instituição. Também obteve mestrado em economia
pela Universidade de Wisconsin (EUA) e lecionou nos
cursos de economia e administração das faculdades
IBMEC-SP. Foi pesquisador da
Fipe
, colaborador do
jornal
O Estado de S. Paulo
, além de colunista do
Di-
ário de S. Paulo
, do
Brasil Econômico
e da revista
Época Negócios
. Hoje colunista da
Exame
, ele faz
parte do corpo técnico da
MB Associados
há 15 anos,
onde atua como economista-chefe desde 2006.
Divulgação
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