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SINDLOC
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OMODELO
TRADICIONAL
DA INDÚSTRIA
CHEGOU AO FIM
Novo presidente da Anfavea aposta em
mudanças radicais no processo de distribuição
e no protagonismo das locadoras
E
m vez do jantar de gala no Clu-
be Monte Líbano, que tradicio-
nalmente marca a posse dos
presidentes da Anfavea, o mandato
de quatro anos de Luiz Carlos Moraes
começou em uma reunião de traba-
lho com executivos de montadoras
na manhã de 23 de abril. Esse estilo
diferenciado deve ser apenas uma de
muitas transformações que serão vi-
vidas pelo mercado automotivo bra-
sileiro, das quais o dirigente é um dos
mais entusiastas. E a indústria de
aluguel de veículos tende a reafirmar
seu protagonismo nesse contexto.
“Ainda não temos total clareza
sobre o futuro, mas a verdade é que
o modelo tradicional de distribuição
já ruiu. Não teremos mais fabricantes
deveículos, esimfornecedorasde so-
luções e serviços”, preconiza Moraes,
no alto de seus 59 anos e com a visão
de quem acompanha o setor há qua-
tro décadas, desde o momento em
que chegou à Mercedes-Benz como
analista da área financeira e contábil.
O executivo passou por vários cargos
de decisão da companhia, foi um dos
responsáveis pela criação do banco
da montadora e, desde 2013, ocupa a
direção de comunicação corporativa
e relações institucionais.
Sua percepção é que a indústria
está passando pela maior mudança
dos últimos 100 anos, decorrente,
em especial, de um novo processo
de decisão do consumidor. De acor-
do com estudo da KPMG, realizado
com 1 mil executivos de alto esca-
lão do setor em todo o mundo, 59%
dos entrevistados acreditam que
metade dos proprietários de carros
não terá nenhum veículo até 2025.
“O segmento de aplicativos vai ga-
nhar corpo, a posse do automóvel
será compartilhada e as monta-
doras terão de repensar seu papel
para se tornarem prestadoras de
serviços de mobilidade”, avalia.
O dirigente referenda essa análi-
se tendo os caminhões como parâ-
metro. “O cliente não quer somente
o veículo, ele quer também serviços
de conectividade que permitam apri-
morar as operações e reduzir custos”,
exemplifica. Não é à toa que uma das
metas traçadas pela nova gestão da
Anfavea é a de auxiliar na regulamen-
tação do uso de informações geradas
pelos motoristas e pelos veículos –
de olho nas tendências de conectivi-
dade e com base na Lei Geral de Pro-
teção de Dados Pessoais sancionada
em agosto do ano passado.
Novos e promissores players
No entanto, Moraes entende que
essa transformação implica uma
nova partilha de custos. “A indústria
não poderá promover essa renova-
ção sozinha e precisará reforçar as
parcerias com outros segmentos”,
complementa. Nesse cenário, as ven-
das diretas assumem uma relevância
ainda maior. De 2015 para 2018, a
representatividade desse segmento
no volume total de transações das
montadoras saltou de 28% para 43%.
Desse montante, as locadoras de ve-
ículos respondem por 58,5%.
O setor de locação, aliás, é res-
saltado como parceiro estratégico
da indústria. “Queremos intensifi-
car a agenda de debates com essas
empresas, que compram grandes
volumes, contribuem para dinami-
zar a cadeia produtiva e ganham
espaço até como canais de divul-
gação das marcas. É uma sinergia
necessária, pois, no fim das con-
tas, o objetivo de todos os atores
do mercado automotivo é um só:
“No fim das contas,
o objetivo de
todos os atores
do mercado
automotivo é um
só: conquistar o
cliente final”
conquistar o cliente final”, enfatiza.
Para Moraes, o nível de exigên-
cia crescente do consumidor deve
servir de estímulo para o adven-
to dos carros com maior eficiência
energética. Embora ainda distantes
da realidade brasileira, os modelos
autônomos galgarão espaço e aju-
darão a mudar a cultura de mobili-
dade. “Vejam o exemplo da China,
cujas longas distâncias são cumpri-
das basicamente de avião. Os tra-
jetos curtos, com autonomia mais
fácil de ser atingida, favorecem o
advento desses veículos”, afirma.
Custo Brasil e reformas
Pegar carona nessa revolução
exige competitividade das empre-
sas. Competitividade pressupõe in-
vestimento, que requer uma rápida
redução do custo Brasil. “A reforma
da Previdência trará confiança aos
investidores e deve ser seguida
imediatamente de uma reformu-
lação do sistema tributária com a
simplificação de impostos. Só assim
será possível reduzir a capacidade
ociosa das fábricas e dinamizar os
negócios”, pontua. Entre as reivin-
dicações da Anfavea aos governos
estaduais, inclusive, está a recu-
peração de créditos tributários de
ICMS retidos nos cofres públicos,
cuja soma alcança R$ 13 bilhões.
Após um período de ajustes em
2017 e 2018, o novo ano começou
com otimismo. O número de empla-
camentos de veículos cresceu 10%
no acumulado de janeiro a abril, em
relação ao mesmo período do ano
passado. A previsão é atingir 2,86
milhões de unidades até dezem-
bro, uma alta de 11,4%. O percen-
tual deve superar 15% no caso dos
caminhões. No entanto, a perspec-
tiva de incremento mais tímido na
produção – hoje na casa dos 9% –
está diretamente associada à queda
brusca das exportações por causa
do mercado argentino e à influên-
cia do PIB. A entidade deve aguar-
dar o término do primeiro semes-
tre para reavaliar essa tendência.
Porém, Moraes mantém a aposta
positiva. “A transformação é inevi-
tável e todo o setor deve se mobi-
lizar em conjunto”, comenta.
n
Dirigente enfatiza A necessidade
de união entre os players do setor
e a relevância das vendas diretas
Crise no mercado argentino compromete exportações
e força uma previsão tímida de alta de 9% na produção
Economista de formação, Moraes atua como vice-
presidente da Anfavea desde 2012. Ingressou no setor
automotivo em1978 e iniciou sua carreira naMercedes-
Benz do Brasil, na area de contabilidade, passando
por diversos setores da empresa, como relaçes
governamentais e comunicaço corporativa.
Quem é
Luiz Carlos
Moraes
Divulgação
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