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REVISTA

SINDLOC

SP

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REVISTA

SINDLOC

SP

“SEJAVOCÊASTARTUP

OU DEIXE SEU NEGÓCIO RUIR”

T

radição e reconhecimento na sua região ou nicho

de mercado, rede de contatos e disponibilidade de

recursos. Todos os ingredientes necessários para

perseguir a inovação estão ao alcance das locadoras de

veículos, exceto um. Falta apenas a coragem para romper

a visão de curto prazo e investir em produtos e serviços

que realmente permitam a entrega de valor ao cliente. De

forma enfática e baseado na experiência em projetos de

inovação e desenho de negócios para empresas do setor

automotivo, Leonardo Massarelli indica às locadoras de

veículos que o caminho para se diferenciar estámais aces-

sível para essas empresas do que para qualquer startup.

COMO VOCÊ VÊ A INDÚSTRIA DE ALUGUEL

DE VEÍCULOS INSERIDA NOS DEBATES SOBRE

A INOVAÇÃO?

Vivemos um momento sensível por causa da pressão

tecnológica e do rápido surgimento de novos players emo-

delos de negócio. Esse contexto, inevitavelmente, gera um

despertar na indústria. Mas ainda enxergo as locadoras de

veículos distantes do patamar ideal, engatinhando na ofer-

ta de tecnologias para as empresas que terceirizam frotas

e mantendo um processo quase hospitalar para possibili-

tar que o cliente do rent a car tenha acesso ao carro em

meia hora, no local que desejar. Mesmo não sendo o

rent a car a modalidade majoritária nas receitas das em-

presas de pequeno e médio porte, esse segmento poderia

ser um grande laboratório de inovação para o setor.

O QUE FALTA PARA MODIFICAR ESSE CENÁRIO?

Falta apenas um ingrediente: coragempara investir em

produtos e serviços que garantam uma entrega de valor

diferenciada para o cliente e o façam perceber que está

recebendo um atendimento sob demanda. As empresas

têm clientes cativos, reconhecimento na região onde atua

e uma rede de relacionamentos constituída. Além disso,

hoje há uma gama de aplicativos de gestão que poderiam

ser facilmente configurados para a atividade de locação.

Todas as condições são favoráveis, mas as corporações

permanecem calcadas em uma visão de curto prazo. Re-

conhecemos que há emergências inerentes ao negócio. No

entanto, elas não podem acreditar que as parcerias com

as plataformas de compartilhamento por meio da disponi-

bilidade de carros aos motoristas serão perenes.

A INOVAÇÃO NÃO PRESSUPÕE MAIS PODER DE

FOGO NO ASPECTO FINANCEIRO?

Essa é uma visão distorcida. O Uber não nasceu como

uma companhia de grande porte. Ela era uma startup

com pouco ou quase nada a perder, mas que apostou em

uma experiência disruptiva e já iniciou

a maratona largando na subida. Mas

por que a locadora não pode assegu-

rar aos seus clientes o acesso rápido

e remoto ao veículo alugado? Ela de-

veria ter o pensamento das startups

e projetar essas soluções. Entre um

motorista desconhecido com uma

rota definida e a empresa à qual tra-

dicionalmente recorro para alugar o

veículo, com liberdade para me des-

locar durante um determinado inter-

valo de horas, qual seria a escolha

mais conveniente?

OS APLICATIVOS DE TRANSPORTE,

ENTÃO, SÃO CONCORRENTES E

NÃO PARCEIROS?

Podem ser parceiros também.

Mas a visão de concorrência é inevitá-

vel. Com as rápidas mudanças no per-

fil dos consumidores, a competição

deixou de ser bilateral. Não disputo

clientes e mercados somente com a

locadora vizinha, mas com qualquer

canal que proporcione aos usuários

de veículos a possibilidade de se des-

locar mais rapidamente de um local

ao outro. Até uma empresa de tecno-

logia pode fazer isso e colocar em xe-

que a sustentabilidade do setor. Essa

mesma analogia podemos fazer com

as grandes cadeias hoteleiras, que se

veem ameaçadas pelo Airbnb – uma

empresa que cresceu e ocupou espa-

ço sem depender de nenhum aparta-

mento de hotel no portfólio.

MAS NA TERCEIRIZAÇÃO DE

FROTAS, AS LOCADORAS AINDA

LEVAM VANTAGEM?

Independentemente se a opera-

ção é B2B, por trás do CNPJ também

há um tomador de decisão sujeito aos

mesmos padrões de comportamento

de uma pessoa física. Ele busca

QUEM:

Leonardo Massarelli

DETALHE:

Especialista em inovação, Massarelli é um dos fundado-

res e CCO da Questtonó, consultoria que já desenvolveu projetos com

diversas marcas do setor automotivo, como Ford, Agrale e Jipe Sta-

rk. Em parceria com o Departamento de Ciência da Computação do

IME-USP e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), ele desen-

volveu o projeto Digital Rails, que prevê vias dedicadas a carros au-

tônomos na capital paulista. Em 2015, foi convidado para integrar o

júri do Festival Internacional de Criatividade Cannes Lions, em 2015.

Divulgação

Bigstock

conveniência, preço e o máximo de

ferramentas disponíveis para contro-

lar sua frota e ter, acima de tudo, mais

previsibilidade de custos. Hoje já exis-

temaplicativos que possibilitamo ge-

renciamento da frota à distância e em

tempo real e estabelecem comunica-

ção entre todos os atores envolvidos

na operação de transporte para um

congresso ou convenção, por exem-

plo – transportador, receptivo e orga-

nizador. Isso deve compor o pacote

básico do setor, antes que os investi-

mentos de Uber e 99 em soluções

para o mercado corporativo ganhem

escala. Se posso ter acesso a essas

plataformas que garantem o carro

em minutos, talvez se torne descar-

tável um contrato de terceirização de

longo prazo. Mas se a locadora que já

tem know-how nessa operação in-

vestir em novas funcionalidades, qual

será a escolha do empresário?

EM RESUMO, COMO TORNAR O

AMBIENTE DE INOVAÇÃO MAIS

ACESSÍVEL PARA O SETOR?

As equipes de trabalho precisam

ser capacitadas continuamente e os

recursos em conectividade nos servi-

ços devem ser prioritários na política

de investimentos, para acompanhar

a evolução que as montadoras e gi-

gantes da tecnologia vêmpromoven-

do nos veículos. No entanto, as con-

dições essenciais para abraçar a

inovação são o olhar para o longo

prazo e o senso de urgência. Antes de

vislumbrarmos o carro autônomo

como distante da realidade brasileira,

deveríamos analisar como ele apri-

mora a economia de compartilha-

mento para que as locadoras mante-

nham sua relevância daqui a dez ou

15 anos. E com todas as credenciais

de que dispõe, tenho convicção de

que a indústria de aluguel de veículos

pode ser protagonista nesse proces-

so de inovação.

n